terça-feira, 30 de novembro de 2010

75 anos após a morte de Fernando Pessoa

“os quatro maiores poetas do século são Fernando Pessoa”

"Tenho em mim todos os sonhos do mundo"
Fernando Pessoa

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Fernando Pessoa

Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos".

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(enlacemos as mãos.)
depois pensemos, crianças adultas, que a vida
passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
mais longe que os deuses.
desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
mais vale saber passar silenciosamente
e sem grandes desassossegos
Ricardo Reis

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. …
Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for. Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos

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